domingo, 23 de janeiro de 2011

Porque eu NÃO VOU assistir à 'Brasil Animado'


De acordo com o Último Segundo, do Portal Ig, a partir do dia 21 de Janeiro todas as salas 3D do Brasil estarão exibindo o longa 'Brasil Animado', de Mariana Caltabiano.

Antes de tacar pedra (e eu vou), é óbvio que não dá pra comparar a qualidade de um longa de animação estrangeiro com um nacional. Aliás, quando foi que tivemos uma animação nacional nos cinemas do Brasil inteiro? Eu não me lembro, o que só expõe a produção mais ainda quanto aos seus defeitos e qualidades.


Só na semana passada que tive coragem pra assistir ao trailer, e confesso que o filme até me pareceu mais interessante depois disso. Mas ainda assim, mesmo sendo entusiasta fervorosa da animação nacional me limito à listar aqui os motivos pelos quais eu não assistirei ao longa, ao menos, não nos cinemas.


Corre lá embaixo, assiste o trailer, eu espero. Assistiu? Pois bem, note a primeira fala do personagem Relax:


"Brasil Animado não é nenhum Avatar...".

Tá certo que há o comentário do outro personagem, soltando um "não diminui a produção!", mas o estrago já está feito. Humor auto-depreciativo é para poucos, e quem quer que tenha escrito esta sequência para o trailer não é um desses poucos.


Comparar Brasil Animado com Avatar não só é burrice, dado o fato de serem produções totalmente diferentes, como é nivelar por baixo. Só porque é 3D tem que ser como Avatar? E quanto à Toy Story 3, Dia dos Namorados Macabro e tantos outros filmes 3D, bons e ruins que foram lançados em 2010? Caltabiano, querida, seu público pode ser infantil, mas crianças não são assim tão limitadas.


Uma produção "corajosa" como Brasil Animado não deveria começar nem com essa mídia nem com a diretora dizendo em toda santa entrevista que li que "o orçamento é pequeno, fizemos o que podíamos". É de novo a mania que brasileiro tem de se diminuir em tudo, de "faltam anos luz pra chegarmos lá".


Se o 3D não é lá tudo isso(e segundo o G1 não é mesmo) fizessem menos bafafá em cima do fato e focassem no que o filme tem de realmente bom.
Sinceramente, eu até agora não entendi qual foi a titica que deu na cabeça dos produtores de colocar 3D em uma animação bidimensional, visto ser um efeito caro – não precisa ser da indústria do cinema pra saber disso - e inapropriado para este tipo de animação.


A primeira opção acaba me lembrando o sujeito que aprendeu a fazer gif animado ontem e entope MSN e página pessoal do Orkut com as novas descobertas, ou seja: me empolguei e quero mostrar o que sei fazer, ninguém vai ligar se eu não sei fazer direito. Afinal, quem mais faz?


A segunda, mais óbvia, está em atrair mídia para o filme, mas esse tipo de hype só tende em levá-lo ao fracasso, como foi o caso de Cassiopéia, lembra? Não? Eu também quase não me lembro, mas é porque dormi no meio do filme.


Cassiopéia chegou aos cinemas em 1996 se auto-badalando por ser a “primeira animação nacional totalmente em CGI”, criando controvérsia até com o 1° Toy Story sobre qual foi o primeiro filme do tipo a ser lançado.


O filme é um fiasco. Os personagens são toscamente simples e a animação pobre, visto que o software já era obsoleto para a época. Assoprando um pouco a mordida, a dublagem é estupenda,.mas o roteiro, como eu já disse, não empolga criança nenhuma, mesmo as mais nerdinhas como eu era.

Eu costumo dizer: não comece um fogo que não possa apagar, mas Cassiopéia só fez fumaça. Temo que Brasil Animado siga pelo mesmo caminho.

O foco do 3D está nas cenas live-action”, você talvez vá ler por ai, mas tenho pra mim que as tomadas dos grandes cartões postais brasileiros são coisa pra gringo ver e nada além. Ainda se houvesse mais interação dos personagens com as cenas em si, daria pra entender, mas como citou o G1, do jeito que está parece até redução de custos. E é.
Mariana Caltabiano o disse, infelizmente não recordarei a qual portal, mas a frase foi mais ou menos “para criar versões animadas do Foz do Iguaçu e do Pão de Açúcar, precisaríamos de um orçamento três vezes maior”.

Não quero tirar os méritos da produção, acreditem. O simples fato de neste país, ao perguntarem a sua profissão e você responder “animador” já te torna uma pessoa com muito 'colhão', mas convenhamos: 3 milhões de orçamento é como fazer um filme com o troco do pão da Disney, mas eu sinto que eles poderiam ter sido muito melhor aproveitados. Era muito mais coerente deixar o 3D e o didatismo excessivo de lado e trabalhar um roteiro mais divertido e dinâmico.

O Omelete citou com perfeição, que diante do que está ao alcance das crianças hoje em dia, na distância de um clique de botão “fica claro que as crianças desta primeira década dos anos 2000 já estão acostumadas a narrativas mais elaboradas”.

Não que eu não goste de desenhos educativos, assistia até bem pouco tempo, mas me incomoda o fato de algo assim ser levado aos cinemas. Se é pra ensinar com desenho, boto meus pequenos(não que eu os tenha: já encomendei sobrinho, mas meu irmão nem) vendo a Cultura, não vou gastar tempo e dinheiro com uma já mais cara sessão de cinema em 3D. Nem elas iriam querer.

Criança no cinema quer é atirar pipoca pra todo o lado, enquanto ri das piadas ou grita de pavor com as situações mais tensas. É nobre a intenção de querer botar um pouco de cultura numa geração que está mais preocupada em aprender jutsus e colecionar Bakugans do que em brincar lá fora, mas não é uma fórmula que dê certo no cinema.

Pensa bem, é fim de semana, você sai pra tomar um chopinho pra relaxar. Só que ao invés de música ao vivo tem um cara dando aula de rotinas administrativas no bar. Daria certo? Óbvio que não.

O que eu vejo em 'Brasil Animado' é o mesmo que vejo no resto do cinema nacional: vamos mostrar a cultura brasileira pros gringos nos valorizarem.

O que falta entender é que NÃO É ASSIM que as nossas produções vão conseguir o prestígio internacional que tanto almejam – ninguém nunca tinha ouvido falar de cinema japonês até 'O Chamado', e o boom foi gigantesco, porque? Porque era um roteiro ORIGINAL, CARAMBA, INOVADOR!

'Brasil Animado' tenta cumprir um papel que já foi muito melhor desempenhado por outros filmes, em especial os produzidos antes da época da Ditadura.

No final das contas, fica uma chance que a animação nacional desperdiçou. Espero que da próxima vez nossos animadores façam a lição de casa direitinho.


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